O ponto central da homilia do Papa na manhã da terça-feira
(06/12) foi o Evangelho da ovelha perdida com a alegria pela consolação do
Senhor.
“Ele vem como um juiz” – explicou Francisco – “mas um juiz
que cuida, um juiz cheio de ternura: faz de tudo para nos salvar”: não vem
“para condenar mas para salvar”, procura cada um de nós, nos ama pessoalmente,
“não ama a massa indistinta”, mas “nos ama por nome, nos ama como somos”.
A ovelha perdida – comentou o Papa – “não se perdeu porque
não tinha uma bússola. Conhecia bem o caminho”. Se perdeu porque “o coração
estava doente”, cego por “uma dissociação interior” e foge “para ficar longe do
Senhor, para saciar aquela escuridão interior que a levava à vida dupla”: estar
no rebanho e fugir para a escuridão. “O Senhor conhece estas coisas” e “vai a
sua procura”. “A figura que melhor me faz entender o comportamento do Senhor
com a ovelha perdida – confessa o Papa – é o comportamento do Senhor com
Judas”.
“A mais perfeita ovelha perdida no Evangelho é Judas: um homem
que sempre, sempre tinha algo de amargo no coração, algo a criticar nos outros,
sempre separado. Não sabia da doçura da gratuidade de viver com todos os
outros. E sempre, esta ovelha não estava satisfeita – Judas não era um homem
satisfeito! – fugia. Fugia porque era ladrão, ia para aquele outro lado, ele.
Outros são luxuriosos, outros... Mas sempre escapam porque têm aquela escuridão
no coração que o separa do rebanho. E aquela vida dupla, aquela vida dupla de
tantos cristãos, e também, com dor, podemos dizer, sacerdotes, bispos... E
Judas era bispo, era um dos primeiros bispos, eh? A ovelha perdida. Pobre!
Pobre este irmão Judas como o chamava padre Mazzolati, naquele sermão tão
bonito. ‘Irmão Judas, o que acontece no teu coração?’. Nós devemos entender as
ovelhas perdidas. Também nós temos sempre algo, pequeno ou nem tanto, das
ovelhas perdidas”.
Aquilo que faz a ovelha perdida – destacou o Papa – não é
tanto um erro quanto uma doença que está no coração e da qual o diabo tira
proveito. Assim, Judas, com o seu “coração dividido, dissociado”, é “o ícone da
ovelha perdida” e que o pastor vai procurar. Mas Judas não entende e “no final
quando viu aquilo que a própria vida dupla provocou na comunidade, o mal que
semeou, com sua escuridão interior, que o levava a fugir sempre, procurando
luzes que não eram a luz do Senhor mas luzes como enfeites de Natal”, “luzes
artificiais”, “se desesperou”. O Papa comentou:
“Há uma palavra na Bíblia – o Senhor é bom, também para estas
ovelhas, nunca deixa de procurá-las – há uma palavra que diz que Judas se
enforcou, enforcou e ‘arrependido’. Eu creio que o Senhor tomará aquela palavra
e a levará consigo, eu não sei, talvez, mas aquela palavra nos faz duvidar. Mas
essa palavra o que significa? Que até o final o amor de Deus, trabalha naquela
alma, até o momento do desespero. E esta é a atitude do Bom Pastor com a ovelha
perdida. Este é o anúncio, a boa notícia que nos traz o Natal e nos pede essa
sincera alegria que muda o coração, que nos leva a nos deixarmos consolar pelo
Senhor, e não as consolações que procuramos para tentar desabafar, para escapar
da realidade, escapar da tortura interior, da divisão interior”.
Jesus, quando encontra a ovelha perdida não a insulta, ainda
que tenha feito tanto mal. No Jardim das Oliveiras chama Judas “Amigo”. São as
carícias de Deus:
“Quem não conhece as carícias do Senhor não conhece a doutrina
cristã! Quem não se deixa acariciar pelo Senhor está perdido! É esta a boa
notícia, esta é a alegria sincera que nós hoje queremos. Esta é a alegria, esta
é a consolação que buscamos: que venha o Senhor com o seu poder, que são as
carícias, a encontrar-nos, para nos salvar, como a ovelha perdida e a nos levar
para o rebanho de sua Igreja. Que o Senhor nos conceda esta graça, de esperar o
Natal com as nossas feridas, com os nossos pecados, sinceramente reconhecidos,
para esperar o poder desse Deus que vem nos consolar, que vem com poder, mas o
seu poder é a ternura, as carícias que nasceram do seu coração, o seu coração
tão bom que deu a vida por nós”. (RB-SP)
Fonte: Rádio Vaticano
Foto retirada da internet
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